Escrevi esse texto durante um exercício no curso de escrita criativa e afetuosa que fiz com a Ana Holanda, editora da revista Vida Simples. Conheci essa proposta de conseguir transformar o texto em um encontro com o outro através de uma amiga que me indicou o livro “Como se encontrar na escrita”, da Ana. Lê-lo reacendeu em mim a vontade de amadurecer e encontrar meu caminho através da escrita. A proposta da Ana é não ficar na superfície de um assunto, mas observá-lo com profundidade para conseguir contar histórias através de objetos e situações “banais”.
Trabalhar com fotografia me faz ter sensibilidade no olhar, mas percebo que às vezes não consigo transmitir em palavras tudo o que sinto ao fazer um registro. Dia desses observei essas roupas no varal e resolvi fotografá-las para escrever sobre elas em algum momento. O momento apareceu e aqui está o texto.
“No varal, a roupa pendurada exalando cheiro de amaciante estava sendo preparada para ser usada novamente. Mas dessa vez, lavá-la tinha outro significado. Não era só sobre remover o que estava sujo. Era despedida. Aquele era o adeus para as peças que por tanto tempo aqueceram e vestiram minha avó. As encontrei dentro de uma sacola em cima da cama de seu antigo quarto. Aquela cama que já não tinha mais a conhecida colcha vermelha, nem colchão. Era só um estrado de madeira, dizendo que ali não era mais preciso descansar.
Olhar para aquelas peças me trouxe a lembrança dos dias frios, da vó sentadinha no sofá molhando biscoito maisena na caneca de café com leite ou das nossas conversas na beira no fogão de lenha e de como eu sentia o cheiro de fumaça sempre que nos abraçávamos porque mesmo com a chaminé a fumaça do fogão adentrava a cozinha e defumava todo mundo que ficava ali.
Água e sabão levaram o cheiro da fumaça e os vestígios da sua presença naquelas roupas, naquela casa que foi palco de tantas histórias. Agora, novos corpos receberiam o calor daquela lã, novos cheiros conheceriam as tramas daquela tecido. Era tempo de deixar ir, sem nunca esquecer.”
Um texto pequeno que fala sobre ausência e saudade. Esse curso me fez entender que sempre existe uma história a ser contada e que a gente pode e deve fazer da escrita uma ponte pra nos conectar com outras pessoas. E que isso pode acontecer de maneiras simples, porque o papel da escrita, como a Ana diz, é “fazer com que o texto deixe de existir em mim para morar no outro”. Sinto que é isso que quero que as pessoas sintam quando conversemos aqui, nesse espaço. Que possamos “tomar um café (ou um chá) juntas” ainda que quilômetros nos separem.